sexta-feira, janeiro 25, 2008

Memórias de verão

Todo verão sempre é a mesma coisa. Um sol de quase 40º durante o dia e à tarde aquela chuva refrescante, que às vezes se transforma numa espetacular tempestade. O rio enche, as árvores ficam mais verdes e sem falar nos insetos que se põem a voar. São besouros e mosquitos numa ópera sem fim. Janeiro tem que chover, ao menos no seu início. Tem dias que temos de retirar aquele casaco, já guardado do inverno, lá no fundo do armário e juntá-lo ao guarda-chuva.
Todas minhas férias eu e meus primos íamos com freqüência para casa da vovó. Desde pequeno lembro-me de minha avó dando nomes para cada tipo de chuva: chuva de vento, chuva de condão e chuva de voltas. Quando calhava de cair uma tempestade destas que vira a tarde e entra pela madrugada afora minha avó fazia uns bolinhos de chuva deliciosos e punha-se a contar seus fantásticos causos. Era um mais horripilante do que o outro, ou então eram suas recordações de infância.
Sempre eu a ajudava com os ingredientes para os bolinhos. Ovos, leite, fermento e trigo. Quando ela misturava a manteiga ao açúcar eu sempre roubava um pouco, depois era uma briga para ver quem ia raspar a travessa, no final a vovó dava uma colher de pau para cada um e assim iniciava a disputa para ver quem dava mais lambidas.
Cada neto tinha suas preferências culinárias. Uns o bolinho de chuva, outros o bolo mármore, até hoje não sei ainda como ela fazia aquele bolo. Era extraordinário, ela misturava uma massa de bolo branco ao bolo de chocolate, colocava tudo numa forma de furo no meio. Quando assava era uma maravilha, as massas não se misturavam. Que delícia!
Enquanto o bolo não ficava pronto, todos seus netos sentavam no tapete da sala para escutá-la. Todos calados, não perdíamos uma só respiração da vovó. Eu gostava de ouvir as traquinagens que minha mãe aprontava com os seus irmãos. Era uma grande farra saber o quanto eles aprontaram na infância.
Conforme o bolo ficava pronto ela o punha na mesa, junto ao café, a lata de leite Glória e a lata de biscoitos que tinha na tampa uma gravura de uma menininha com um ramalhete de flores vermelhas. Ávidos corríamos para a mesa, a briga agora era pra ver quem ia sentar ao lado da vovó.
Os meninos depois do lanche saiam a procurar besouros, fazíamos coleção. Cada escaravelho encontrado era uma festa só. Gostávamos de amedrontar as meninas. Enquanto saímos para a caça as meninas punham-se a fazer roupinhas para suas bonecas. A vovó sempre as ajudava, era uma costureira de mão cheia, fazia as roupas do batizado de todos os seus netos, nada da madrinha comprar, roupa de batizado lá em casa era somente com a dona Tereza.
Quando o verão acabava era uma tristeza só. Cada um ia para a sua casa com a vontade de que o verão durasse pelo menos mais uns dois meses. Íamos nos encontrar de novo só no próximo verão, este era o motiva da saudade ser maior.
Agora todo verão é a mesma coisa: o cair da chuva no final da tarde faz com que me lembre da vovó, dos seus quitutes encantadores e das travessuras com meus primos. Na estante está o seu retrato, no dia de seu casamento, com o seu vestido branco bordado, sua grinalda na cabeça e o buquê nas mãos. A vovó era tão linda. O verão sem a vovó não é mais igual, era ela que tornava o verão realidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Agora sim,vc enchugou direitinho.
Agora temos um bolo,ops um conto.Ou este é a cronica? sabe eu não entendo dessas coisas...
não sei escrever. =(

Anônimo disse...

Poxa, vc tem talento. Agora então... depois da oficina, vc vai longe c/ certeza.
Seja na crônica ou no conto, vc sabe se expressar.
Estou achando interessante essa coisa de ser "escritora" também. rsrs

Anônimo disse...

Este "Verão" é aqui em Petrópolis???
Cadê?????????????
Beijos, adorei!
Só num sei dizer se é um conto ou uma crônica... rsrsrs