Chove lá fora, fogos estouram tímidos e surdos. Passo por mais um mometo onde as promessas surgem e o passado retoma minha memória. O que eu fiz ou o que eu ainda irei realizar passa por minha cabeça, e lá fora se escuta a chuva.
Desejo deixar de ser bonzinho, desejo guardar dinheiro, ler mais, namorar mais, preocupação zero. Nada disso talvez se cumpra, como nos anos anteriores, mas não vou me calar, este será o ano do não, deixarei de dizer sim pra tudo e abaixar a minha cabeça, este ano será meu e de mais ningém. Ainda chove.
Escuto agora vozes de crianças e suas bombinhas a estalar pelas ruas. Ecos de música sertaneja entram pela janela de meu quarto, a chuva cai no telhado deixando o seu som acalmar meu coração. Aquela velha touca de natal está na minha poltrona, ainda não desfiz os laços dos presentes e nem tenho a vontade de abrir cada embrulho. Pingo atrás de pingo se constrói a chuva, num embalo que forma uma cortina vertical no horizonte cinza.
Ainda assim, chovendo, os fogos estouraram na noite e eu estarei lá com minha taça na mão para mais um brinde. E na segunda continuará tudo de novo, chuva, frio e nevoeiro.
Ainda no fundo do gélido coração existe aquela velha fagulha de esperança. A chuva vai passar. Da janela eu a vejo nas folhas molhadas, surgindo assim a vontade de sair na chuva e com ela passear pelo jardim por entre as rosas de verão. Onde estão os pássaros e as borboletas, nessa chuva?
Ainda não sei, mas fica aqui o desejo de um ano calmo e sobretudo feliz.